Projecto MOBINTER
Mobilidade e interacção na PréHistória Recente do sul de Portugal: o papel dos centros de agregação. (PTDC/EPHARQ/0798/2014)
Finaciado pela FCT (Fundos nacionais)
Instituições participantes:
ICArEHB – U. Alg.; Era Arqueologia; Lab. Hércules – U. Évora
Investigador Responsável:
António Carlos Valera
Resumo:
Este projecto tem como objectivo avaliar a intensidade e o papel social, económico e ideológico da mobilidade e da interacção nas sociedades do Neolítico Final e Calcolítico do sul de Portugal expressas no desenvolvimento de centros de agregação populacional.
As sociedades baseiam-se no intercâmbio. A mobilidade é, assim, constitutiva da sociedade. Este papel estrutural da interacção e da mobilidade pode assumir múltiplas formas (desde a dádiva ao comércio regulado), pode ser ritualizado ou totalmente dessacralizado e abranger quase tudo (pessoas, animais, objectos, matérias primas, ideias, crenças, conhecimento, estatutos ontológicos, etc.).
Durante o desenvolvimento de organizações sociais complexas na PréHistória Recente assistiu-se à emergência de sítios que actuaram como palcos ou marcos para a mobilidade e interacção. Neste contexto, muitos recintos pré-históricos europeus (de fossos, de muralhas ou de paliçadas) apresentam evidências que sugerem esse papel. Desde os que são interpretados como centros de agregação até aos que parecem marcar rotas, dos que concentram largas quantidades de objectos e matérias primas exógenas aos que envolvem a realização de práticas funerárias, os recintos são contextos importantes para abordar o papel da mobilidade na organização social das sociedades neolíticas e calcolíticas, tradicionalmente consideradas como progressivamente mais sedentárias.
Como base para esta investigação foi escolhido, devido à sua adequação para tratar o assunto, um sítio arqueológico específico datado do 4º e do 3º milénio a.n.e: Perdigões (Reguengos de Monsaraz, Évora). Trata-se de um grande recinto de fossos (20 ha), com uma longa cronologia (cerca de 1400 anos), com um significativo historial de investigação que demonstra que detém os dados arqueológicos (vários contextos funerários, abundância de restos faunísticos, abundância de artefactos e matérias-primas de proveniência exógena) em quantidade e qualidade para permitirem a investigação da mobilidade nestas sociedades na região em questão.
Esta abordagem à mobilidade e interacção será focada no movimento físico e geográfico de pessoas, animais e artefactos (que se pretende trabalhar de forma articulada) através da distinção de proveniências locais e exógenas. Pretende-se estabelecer a rede de relações regional e transregional e caracterizar o papel social, económico e ideológico que um grande recinto de fossos como os Perdigões nela desempenhou. Com isso procura-se definir o papel da mobilidade física no desenvolvimento do sistema social global destas comunidades e o seu impacto nas identidades, coesão social ou geração de desigualdades, estratégias económicas e organização territorial.
A mobilidade e a interacção serão avaliadas através de análises isotópicas de 87Sr/86Sr (para humanos e gado), paleo dietas (para humanos, através de análises isotópicas de delta13C e delta15N), estudos arqueométricos de artefactos e matérias-primas específicas (objectos de marfim, cinábrio, grandes lâminas de sílex, contas de colar, cerâmicas, objectos de cobre) e identificação de espécies faunísticas exógenas (nomeadamente de moluscos), assim como através de estudos tipológicos mais tradicionais.
Serão usados materiais, restos humanos e faunísticos e contextos de escavações prévias nos Perdigões, mas outras estruturas específicas serão intervencionadas arqueologicamente com o objectivo de alargar a base de dados em termos espaciais e cronológicos.
Para analisar o desempenho social da mobilidade e da rede de interacções nas suas diversas componentes em termos diacrónicos será implementado um programa de datações absolutas, que também contribuirá para aprofundar a temporalidade do recinto.
Como resultado obter-se-á um conjunto de dados que permitirão a caracterização da mobilidade e interacção nos Perdigões através da sua diacronia e a construção de um modelo teórico que procure combinar o papel desempenhado por ambas as variáveis na organização sócio-económica e ideológica e fluidez territorial das comunidades do Neolítico Final e Calcolítico do sul de Portugal.
Finalmente, dedica-se particular atenção ao impacto público que o projecto deve assumir. A mobilidade e a interacção são aspectos centrais na vida social actual e colocam importantes desafios para o futuro a nível regional ou mais global. Assim, o projecto aborda problemas que estão bem enraizados na complexidade do nosso presente histórico, onde novas formas de mobilidade social e económica estão a ser delineadas, gerando novas dinâmicas sociais de adaptação ou de resistência.
Assumindo um importante problemática actual e procurando analisa-la na organização e desenvolvimento das sociedades no contexto histórico totalmente distinto, o projecto aproxima a investigação arqueológica da nossa realidade, tornando-a socialmente útil e comprometida. Nesse sentido foi desenhada uma tarefa especificamente orientada para a divulgação pública dos objectivos, desenvolvimentos e resultados do projecto.